domingo, 29 de julho de 2012

Achei o culpado!



Ontem peguei um ônibus que fez um trajeto da Zona Sul pra Zona Norte do Rio de Janeiro – e o inverso também – sentei próximo à janela, que estava entreaberta, coloquei uma música no celular, os fones no ouvido e, sentindo aquele ventinho fresco de inverno atípico carioca, a reencontrei. Sim, ela. Tava ali o tempo todo esperando por mim.

Em meus dois anos de Belo Horizonte, morei próximo à UFMG, então pegar ônibus era indispensável – à menos que eu quisesse resolver algo no centro, o que raramente acontecia. Meu trajeto diário faculdade-casa se resumia a quinze minutos de caminhada dentro do campus.

Depois que mudei pro Rio as coisas mudaram drasticamente. Sempre morei na Zona Sul, mas estudava na UFRJ que fica no campus da ilha do fundão – na zona norte. Era uma viagem diária. Ônibus lotado, pessoas de todo que é tipo, baratas, vendedores ambulantes, sol escaldante, e uma paisagem peculiar na janela. Nunca tive o costume de ler em transportes, preferia carregar algum aparelho que me possibilitasse ouvir músicas durante toda a viagem. Mas às vezes, era no ônibus que eu rascunhava trechos de crônicas que iriam futuramente pro meu blog.

Quando eu morava em BH não escrevia. Não rascunhava. Não tinha blog. Não pegava ônibus.
Em julho completei um ano de FGV, isto é, um ano estudando perto de casa – um ano sem transporte público. Um ano sem histórias rascunhadas... Meu blog estava jogado às traças. Mas ontem, ali em um ônibus lotado, com pessoas de todo tipo, com vento batendo na cara e fones no ouvido, senti vontade de escrever de novo.

E, de repente, as histórias começaram a surgir...

Lembrei-me que, por volta de dois meses atrás, fiz uma viagem pra um encontro familiar em Minas Gerais e que na volta tinha uma senhora, que roncava altíssimo, sentada ao meu lado. O dia seguinte seria lotado de atividades do mestrado e eu precisava dormir... Mas a mulher não parava. O marido dela, sentado umas duas fileiras pra trás, a acordou na primeira parada pra saber se estava tudo bem. Foi quando um garoto entrou no ônibus e dirigiu-se à poltrona que estava o marido da “roncadora-estraga-sonos-alheios”. Aquele jovem simpático – tava escuro, não consegui prestar atenção em detalhes até então – pediu pra que o senhor trocasse de lugar com ele. Preferia sentar no corredor, pois era alto, tinha pernas grandes e sentia-se incomodado com o aperto das poltronas. Aproveitando a oportunidade, pra minha satisfação, o senhor perguntou se ele poderia trocar de lugar com a sua esposa – a roncadora – e ele aceitou. Ele sentou então ao meu lado. Foi quando descobri que era moreno e, sim, tinha a barba por fazer – coincidência, não?¹ Mas eu sabia que aquele não era o MEU moreno. Sabia que ali, do meu lado, estava sentado alguém que tinha uma história completamente diferente da minha, mas que, por um par de pernas grandes e por um senhor preocupado com os roncos da sua senhora, tava cruzando minha vida e que isso me renderia uma crônica! Pensei em puxar conversa com ele, mas desisti quando ele vestiu seu casaco de moletom e colocou o capuz sobre o cabelo molhado. Tava lindo, lindíssimo... Preferi não estragar aquele momento.

Ônibus sempre me renderam histórias, mas o mais engraçado é que eu quase nunca ouço conversas alheias. Sempre coloco a música no último volume, fico apenas observando os gestos das pessoas. Cada um com suas idiossincrasias. Gosto de imaginar o que eles estão conversando e o que fazem da vida.

Ontem, por exemplo, quando olhei pro lado tinha um casal de pé – já comentei que ônibus tava lotado, né? – arrumados como se estivessem indo pra alguma baladinha na zona sul, ambos de costa pra mim. Se entreolharam, a garota começou a rir escandalosamente, o cara riu e levantou a calça. Antes mesmo disso, eu já tinha reparado – algo que era impossível de não ver – que o garoto estava com uma cueca, daquelas samba canção, super grandes, pro lado de fora da calça. Seria esse o motivo da risada? Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe! Mas foi isso que me fez rir, me fez sentir inspirada a contar pra vocês essa história. Depois eles se beijaram rapidamente, pois uma freada brusca do ônibus quase os derrubou.

Sim, querido amigo leitor, eu a reencontrei. Na verdade, ela nunca saiu do lugar. Existem vários tipos dela... INSPIRAÇÃO, sua linda, seja bem vinda de volta!

Mas e o culpado? É o ônibus, uai. Na verdade, a falta dele. Acho que pra voltar a escrever com regularidade, preciso transferir meu mestrado pra um lugar distante² ou pegar ônibus aleatórios e sair passeando pela cidade – essa última seria uma boa oportunidade pra conhecer melhor o Rio. Que, diga-se de passagem, é uma cidade encantadora e inspiradora - berço da crônica, mãe dos cronistas! Voltei a me sentir viva... Tô feliz de novo!


¹ Pra quem já conhece meus textos, já deve ter percebido que morenos, altos, com barba por fazer sempre protagonizam minhas histórias. Dessa vez não poderia ser diferente.
²  Não farei isso, fiquem tranquilos. Hehe

P.s.: 12 dias atrás recebi um e-mail fofíssimo de uma outra mineira que ganhou meu livro (Café, cálculos e crônicas) de presente e pediu pra que eu não parasse de escrever. Gostaria de destacar um trecho deste e-mail, vocês entenderão porque: "...como você, sou tão desastrada que um café no ônibus iria provocar uma catástrofe tão grande que eu não teria chance alguma com o moço ao lado, mesmo se ele fosse o amor da minha vida. Aliás, eu tenho disso, de pensar em amores da vida dentro do ônibus."- Indhiara Souza, BH

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Menina está online


- Oi, você tá acordado?

- Tô sim. Tudo bem? J

- Sim. Desculpa. Não tenho o direito de ser grossa com você. :(

- Tranq...

- Nao tenho porque tomar essas atitudes radicais. Sei que se te pedir um tempo, você me respeita.
 
- Acho que só conseguimos estar tanto tempo "juntos", nessa amizade, porque sempre houve transparência. Transparência pra dizer o que está sentido na hora em que está sentido...
 
- Mas eu não queria te deixar triste.
 
- Só fico triste quando você vai embora.
 
- Já fui embora algumas vezes e vou de novo. Mas queria te deixar bem...
 
- Sabe o que eu quero? Quero você perto, cada vez mais perto. Tenho convicção que querer, nesse caso, não é poder, mas ainda assim, eu quero!
 
- Desculpa L
 
- Sem carinha triste, por favor.
 
- Também quero você perto, mas tenho certeza que não devemos ficar juntos!
 
- Eu passo o dia pensando em você, acordo e quem me vem a cabeça é você...
 
- Me conta, como era antes de você me conhecer? 
 
- Eu era triste, andava pela rua amargurado, sem saber para onde ir...
 
- Ah, para, vai. Tô falando sério. haha
 
- Eu tive uma fase meio louca, não tinha compromisso com nada. Mas depois comecei a trabalhar fixo e só fazia isso, até te encontrar. E com você, o que mudou?
 
- Passei a dormir com o celular embaixo do travesseiro. (Risos) Eu gosto de você, sério. Aquele lance de dependência, sabe?
 
- Fico feliz em saber que quando você precisa e quando você não está bem, me procura.
 
- Sou egoísta.
 
- Amo quando seu egoísmo me escolhe!
 
- =P 

- Eu gostaria de dividir a minha vida com você, meus dias, minhas horas...meus sonhos. Não sei o nome disso e nem sei se estou interessado em dar um titulo para isso que sinto, para esse desejo...
 
- Se pudesse ficaria o dia inteiro falando com você. Morro de raiva quando não me dá atenção, quando demora responder... Mas não me apaixonei por você! Preciso dormir, boa noite!

Menina está offline!

(Continua...
...ou não)
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

DR


Por Joyce Figueiró
Certo dia uma amiga me convidou pra ir a um barzinho. Disse que tava cheia de novidades e prometeu me contar, nos mínimos detalhes.
                Nos encontramos no local e horário combinado. Foram quinze minutos de formalidades sociais , mas como sou curiosa, fui logo pro assunto.
                - Então, me conta.
                – Contar o que?
                - Oras, o que você disse que me contaria.
                – Ah sim, claro. Então, eu acabei de ter uma DR.
                – Ham? Como assim?
                – DR, ué. Discuti um relacionamento.
                – Eu sei o que é DR.
                – Então, resolvemos dar um tempo.
                - E desde quando você tava namorando? Não me contou.
                – Longa história.
                - Mas não é isso que você ia me contar?
                – Sim, mas é complicado.
                - Como assim? Você está me deixando confusa.
                – Na verdade, eu estou confusa.
                - Claro, isso é normal depois de dar um tempo em um relacionamento… peraí, que relacionamento? Não me enrola!
                – Relacionamento? O meu, oras! Ou melhor, o que falaram que eu tava tendo.
                - Ham? Como assim falaram?
                – Falaram que eu tava namorando, ué.
                - E você não tava?
                – Não sei.
                - Caramba! Você tá me deixando maluca! Ou será que você tá maluca?
                – Não, eu não. O povo que tá.
                - Que povo?
                – O povo que falou que eu tava namorando.
                - Então você não tava namorando mesmo?
                – Eh, acho que não.
                - Então por que você teve a DR?
                – Ai amiga, isso é óbvio. Eu tinha que terminar com o carinha de algum jeito.
                - Mas você não tava namorando com o carinha pra terminar com ele!!!!!!!!
                – Mesmo assim, tive que terminar pra não gerar dúvidas. Então fui lá e falei com ele.
                - E ele?
                – Ficou surpreso também.
                - Ele não sabia que vocês estavam namorando? Quer dizer, que o povo tava falando que vocês namoravam?
                 - Acho que não. Mas ele ficou chateado.
                - Claro, eu também ficaria. Odeio quando fazem fofoca com meu nome.
                – Mas não foi por isso.
                - Então por que ele ficou chateado?
                – Porque ele odeia DR’s, finais de relacionamentos e coisas do tipo.
                - Mas se não existia relacionamento, não foi um término! NÃO CONSEGUE ENTENDER ISSO?
                – Ih, você tá nervosinha, calma. Não dizem que “a voz do povo, é a voz de Deus”? Então, claro que existia um relacionamento. A gente só não sabia e quando ficamos sabendo, tivemos que terminar.
                - Você tá maluca!
                – Maluca, não. Tô triste!!
                – Triste por quê? Vai me dizer que tá triste porque terminou um relacionamento que não existia?
                – Não é por isso. Tô triste porque, se eu soubesse que tava namorando poderia ter aproveitado mais. Dei mole!
                – Acho que vou pedir uma dose de vodka.

Joyce Figueiró

segunda-feira, 12 de março de 2012

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ele curte, ela comenta


Agora que o carnaval já acabou, as pessoas ficarão mais vulneráveis e dispostas a iniciar um relacionamento. E olha que isso não é uma característica feminina. Os meninos hoje em dia já entraram no páreo de carências afetivas. Preciso confessar que essa não é a minha área de pesquisa, nem passa perto, mas o tanto curiosa que sou, transformou-me em uma observadora perita.

                Recentemente li um artigo que dizia como que a popularização do facebook influenciou na dinâmica de um relacionamento. Lá o autor citava passos de conquista – coisas como mandar recadinhos por terceiros, descobrir o telefone, ligar no dia seguinte ao primeiro encontro e arrumar um lugar romântico para pedir em namoro, foram substituídas por opções de curtir e dar comentários. E, pior, o artigo diz (e eu acredito seriamente que seja algo plausível) que o namoro só começa de verdade, quando o status muda de ‘solteiro(a)’ para ‘relacionamento sério’. *

                Acha que isso é bobagem? Se eu te contar tudo que eu tenho observado na minha lista de contato, te deixaria de queixo caído – ou seria algo que, no mínimo, mereceria um curtir e um comentário com risos logo embaixo! ;)

                O mais curioso é como acaba um relacionamento. Quem já assistiu a aqueles filmes de comédia romântica, sabe que a frase clichê de um fim de namoro é “mas vamos ser amigos!”. Se isso dá ou deu certo na ficção ou em algum lugar, ou em algum tempo da história eu não sei. Mas nessa era do facebook eu garanto que está ultrapassado. É muito raro ver um status de relacionamento voltar para ‘solteiro’ e os dois continuarem amigos. Tornam-se conhecidos. Não se curtem, no máximo, comentam ou compartilham indiretas.

                Pior ainda são aquelas pessoas que cancelam a conta assim que começam um namoro. Duvido que ficam totalmente desconectadas. Devem procurar outra rede social. O twitter seria uma boa alternativa. Imagine só como seria divertido acompanhar uma DR em 140 caracteres!

Tem café?

O vídeo que segue foi gravado no lançamento do meu livro "Café, cálculos e crônicas". 
'Tem café?' é a primeira crônica do livro e talvez a mais conhecida, pois ela foi usada no material de divulgação. 

Várias pessoas me procuraram para saber do final, quem seria o dito cujo da história? Use a sua criatividade: quem poderia ser? Vou pensar numa premiação pra resposta mais criativa! =D


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Definindo um amigo


Amigo de verdade não é aquele que fica te incentivando a fazer atividade física, nem aquele que te enche de elogios...
                Amigo que é amigo te carrega pra rodízios, compra uma barra de chocolate todo dia e leva pra dividir com você na sala de aula. Depois vocês combinam dietas radicais, mas na primeira oportunidade aparece uma receita nova de bolo de maçã com canela e então já era...
                Amigo é aquele que entra na sua casa e fala ‘que bagunça é essa?’ e sai trocando tudo de lugar. Põe defeito em tudo, te dá bronca e logo em seguida pede desculpas.
                Amigo é quem fica em estado de alerta, observando tudo que acontece ao seu redor e no primeiro vacilo, começa rir e caçoar de você – e faz isso pro resto da vida. Promete contar para os seus filhos, que vai contar para os seus netos...
                Amigo de verdade não te abandona, nem quando você precisa ficar sozinho. Quando você mais precisa de concentração – para estudar pra uma prova difícil, ou se dedicar a alguma tarefa – é aí que ele começa te contar os casos mais engraçados e vocês passam horas rindo...
                Amigo é aquela pessoa que topa um convite para o Karaokê na primeira chamada e ainda promete cantar alguma música brega. E vai! E canta a tal música brega!
                Amigo de verdade te manda pagode pra você ouvir quando está triste e inventa outras estratégias estranhas pra te deixar feliz...
                Amigo que é amigo está disponível em todas as horas – duas, três, quatro da manhã... É quem fica horas na fila com você pra comprar ingresso pra um show ou pra conversar com seu artista favorito!
                Amigo de verdade não é aquele que tenta diminuir sua carga, mas aquele que faz você colocar ainda mais tijolos no carrinho pra fortalecer a musculatura do braço. E se você sobreviver até o final do dia, ainda te convida pra tomar um chopp.
               Amigo que é amigo te acorda dando "Bom dia" infinitas vezes e fica rindo quando você está de mau humor!
               Amigo de verdade é aquele que usa a mesma linguagem que você - é aquele que usa expressões nerds que provavelmente só vocês dois entenderão!
               Amigo que é amigo de verdade coloca um nariz de palhaço e vai em um show de uma banda com um nome estranho só pela companhia - e depois saí de lá mais amigo do que nunca!
                Amigo que é amigo topa viajar com você durante quatorze horas seguidas, pra uma cidade sem nada interessante pra fazer, só para vocês praticarem a arte de ‘ser amigo’.
                Amigo, pra ser amigo de verdade, não precisa ser conhecido há meses, anos... Se for amigo, você percebe na hora!               
Esse texto não tá completo, na verdade, nunca vai estar. Porque amigo que é amigo de verdade, não tem uma definição limitada, ele sempre vai aprontar mais alguma coisa!
Aí de mim se vocês não existissem!!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Recolhida

Encontro-me recolhida. Afastada do mundo. Aqui, onde eu estou, tudo que ouço são os zumbidos dos mosquitos que insistem em atormentar o meu sossego. Eu não durmo, apenas coloco minha mente para descansar. Não adianta me ligar, mandar torpedo, fax ou e-mail. Estou escondida até da tecnologia. Nem carteiros passam por aqui. Talvez uma parte de mim esteja com saudade e queira voltar. Mas a outra ainda resiste. Quero ficar aqui mais um tempo. O suficiente para me conhecer melhor e, assim ficar de bem comigo. Temos brigado. Sim, eu comigo mesma. Mas isso passa... Talvez eu demore mais alguns dias, semanas ou até meses. Só lhe peço um favor: me espere!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Não importa à qual vista




 Quando falei de amor à primeira vista, juro que eu estava brincando. Nunca acreditei nessa bobagem, mas disso também você não sabe. Não fomos apresentados. Não dissemos sequer um “oi”, pelo menos não pessoalmente. O simples fato de tê-lo visto na lista de amigos numa rede social, foi o suficiente para comentar com alguém. Investigação mesmo. Queria já saber quem era e o que fazia. Achei você bonito. Seu cabelo desarrumado e sua barba por fazer chamaram minha atenção. Ainda não senti seu cheiro, nem seu hálito. Não vi se tem esse brilho todo nos olhos e a sagacidade retratada nas fotos, mas toda vez que te vejo, ou melhor, vejo seu perfil, tenho a impressão de ter encontrado o homem da minha vida.
       Contei isso para uma amiga. Nossa amiga, na verdade. Eram sobre você aqueles códigos. Nossa maneira de disfarçar qualquer evidência que me entregasse nos infinitos recados no Facebook. Demos a você um apelido. Não. Por favor, não insista em saber. Nunca vou te contar. Piegas demais.
       Acredito que o amor não precisa ser à primeira vista. Acho essa história pura bobagem. Não importa se é à primeira, segunda, milésima... o importante é que o amor existe e chega na hora certa. Bom, para uns demora um pouco mais, mas chega...
       Cara! Nunca nos encontramos e às vezes nem acredito nisso, porque toda vez que vejo uma foto sua em um álbum de algum amigo – dos vários que temos em comum - ou que você posta no Face, sinto como se nos conhecêssemos há anos. Parece que já trocamos figurinhas no colégio, que já brincamos de pique-esconde e eu te encontrei escondido atrás do guarda-roupa da mamãe. Sim, você. Tenho certeza! Sem essa barba, sem voz grossa. Caramba! Não sei como é sua voz. Mas imagino. Deve ser tão bela quanto você. Tá, você não deve ser cantor, aliás deve ser desafinado à beça, mas imagino você tocando violão. Até que toca bem, sabia? Mas não cante. Guarde sua voz para falar versos de amor no meu ouvido. Ficarei quietinha... Só te ouvindo. Depois vamos nos abraçar. Sairemos no inverno e hei de querer seu moletom para me aquecer. Seu cheiro ficará grudado em mim e sentirei cócegas quando sua barba roçar o meu pescoço. Hei de amar os seus vários sorrisos! Do sem graça ao mais apaixonado. Aliás, esse será sempre o meu favorito. Olha, você ainda não sabe, mas me ama. Não. Ainda não ama não, afinal, nem houve “a vista”, mas quando acontecer, então saberá, ou melhor, saberemos.
       Passei um tempo desconectada, mas não me aguentei  e entrei no seu perfil. Cara, que lindas suas fotos da viagem com a família. Fiquei com ciúmes. Queria estar ali com vocês. Na viagem e nas fotos. Sua mãe é linda e acho vai gostar de mim. Ainda contarei muitas piadinhas no churrasco de domingo com seu pai. Vamos rir tanto que você vai me dizer: “Para de dar corda pro meu pai, ele não tem limite.” E eu direi: “Qual o problema? Deixa ele, co0itado.”
       Serei a nora favorita. Serei a namorada perfeita. Não, perfeita, não. A gente vai brigar muito, sabia? Eu vou te ligar na quarta à noite reclamando porque não ligou e você vai dizer que estava terminando de preparar uma apresentação. Vai me pedir desculpas e eu, boba, aceitarei. Você vai reclamar dos meus atrasos toda vez que a gente sair. Mas vai entender, quando notar que eu estava me preparando, embelezando pra encontrar você.
       Sabe, ainda nem fomos apresentados, ainda não conversamos, não sabemos do que o outro gosta. Nada. Absolutamente nada.  Mesmo assim, tenho certeza de que seremos felizes. Não para sempre. Mas o suficiente para nos tornamos inesquecíveis um para o outro. Não importa à qual vista, mas será amor. Muito amor...

P.s.: Essa é uma das 35 crônicas do livro "Café, cálculos e crônicas" de Joyce Figueiró

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Queridas Calorias


Acabei de chegar da academia e estou com fome. É só sair de lá que aumenta o meu apetite. Confesso que parei de levar dinheiro quando vou malhar desde que colocaram uma lanchonete e uma casa de tapiocas no meio do caminho. Aquele cheiro de batata frita, presunto e bacon me mata!

“Mas foram cinquenta minutos de sofrimento no spinning!” – isso porque hoje eu fiquei com preguiça de ir para a aula de dança aeróbica.

Tento me concentrar, ignoro o cheiro de gorduras e penso naquele fedor de gente suada da aula. Hum… eca! Perdi o apetite.

Odeio ter que ir para a academia. Odeio musculação. É uma coisa tão sem sentido, não acha? Ficar puxando e empurrando peso não tem graça. Não quero ser bombada, nem ficar “gostosona” para ouvir “fiu-fiu’s” no meio da rua. Quero apenas acabar com a camada adiposa extra que me pertence – eu gostaria de ser clara com você, querido leitor, e dizer que eu estou acima do peso e preciso emagrecer, mas nessa onda de bullyng que nos rodeia, se autodenominar gorda pode dar cadeia.

A primeira vez que me matriculei numa academia e fiz a avaliação, me sugeriram fazer esse tal de “spinning” e, como uma boa alienada que sou, tive que ter a ousadia de perguntar: “o que é isso?” Provavelmente, a resposta que eu obtive foi a mesma dada em todas as academias e à todos que perguntam: “Spinning é uma atividade aeróbica e de mudanças de ritmo, realizada em uma bicicleta estática ao ritmo da música, simulando subidas, baixadas e planos.” Ou seja, você fica pedalando em cima de uma bicicleta que não sai do lugar e que faz doer o bumbum enquanto o professor fica gritando: “aumenta carga”, “vamos subir”, “sinto cheiro de pneu queimado”, “saí pizza”, “sai torta de chocolate” “vamos… façam de conta que estamos subindo o Alto da Boa Vista.” Isso tudo ao som de alguma música agitada.

Sabe o que é pior? Durante a aula eu só conseguia pensar no rodízio de pizza que fui no sábado passado. Eu amo comer – quem não ama, né? Amo pizza – essa maldita que esconde infinitas calorias no seu “z” extra. E, para piorar, acabamos a noite de sábado na Lapa, tomando açúcar com limão, gelo e cachaça – que é vulgarmente conhecido como caipirinha. E enquanto pensava nisso eu prometia a mim mesma nunca mais vacilar assim de novo.

“Pizza? No máximo uma fatia e a mais light possível!”.

“Caipirinha? Uma vez por ano e não se fala mais em bebida alcoólica até que (quase) toda a minha camada adiposa tenha se exterminado.”
Eu, essa pessoa que vos fala, está definitivamente de dieta!
(O telefone toca!)
- Oi amiga!
(…)
- Eu estava escrevendo, mas nada muito importante, não. Acabei de voltar da academia.
(…)
- Rodízio de que?
(…)
- Hum, que delícia. Que dia?
(…)
- Sexta está perfeito! Todo mundo vai?
(…)
- Hum… Legal! Vai ser onde, Ipanema mesmo?
(…)
- Claro, pode ser.
(…)
- Festa depois do rodízio? Qual a graça?
(…)
- Ahh…Não vai ter comida? Ainda bem, né? (Risos)
(…)
- Então vão se reunir para beber?
(…)
- Claro que topo. Passo de carro na sua casa, 19h.
(…)
- Até lá, Beijos.

Bom, como eu estava falando, eu ainda tenho dois meses pagos na academia. Ainda terei muito suor de reclamação para derramar nas aulas de spinning.

Vídeo extra: