Ontem peguei um ônibus que fez um trajeto da Zona Sul pra Zona Norte do Rio de Janeiro – e o inverso também – sentei próximo à janela, que estava entreaberta, coloquei uma música no celular, os fones no ouvido e, sentindo aquele ventinho fresco de inverno atípico carioca, a reencontrei. Sim, ela. Tava ali o tempo todo esperando por mim.
Em meus dois anos de Belo Horizonte, morei próximo à UFMG, então pegar ônibus era indispensável – à menos que eu quisesse resolver algo no centro, o que raramente acontecia. Meu trajeto diário faculdade-casa se resumia a quinze minutos de caminhada dentro do campus.
Depois que mudei pro Rio as coisas mudaram drasticamente. Sempre morei na Zona Sul, mas estudava na UFRJ que fica no campus da ilha do fundão – na zona norte. Era uma viagem diária. Ônibus lotado, pessoas de todo que é tipo, baratas, vendedores ambulantes, sol escaldante, e uma paisagem peculiar na janela. Nunca tive o costume de ler em transportes, preferia carregar algum aparelho que me possibilitasse ouvir músicas durante toda a viagem. Mas às vezes, era no ônibus que eu rascunhava trechos de crônicas que iriam futuramente pro meu blog.
Quando eu morava em BH não escrevia. Não rascunhava. Não tinha blog. Não pegava ônibus.
Em julho completei um ano de FGV, isto é, um ano estudando perto de casa – um ano sem transporte público. Um ano sem histórias rascunhadas... Meu blog estava jogado às traças. Mas ontem, ali em um ônibus lotado, com pessoas de todo tipo, com vento batendo na cara e fones no ouvido, senti vontade de escrever de novo.
E, de repente, as histórias começaram a surgir...
Lembrei-me que, por volta de dois meses atrás, fiz uma viagem pra um encontro familiar em Minas Gerais e que na volta tinha uma senhora, que roncava altíssimo, sentada ao meu lado. O dia seguinte seria lotado de atividades do mestrado e eu precisava dormir... Mas a mulher não parava. O marido dela, sentado umas duas fileiras pra trás, a acordou na primeira parada pra saber se estava tudo bem. Foi quando um garoto entrou no ônibus e dirigiu-se à poltrona que estava o marido da “roncadora-estraga-sonos-alheios”. Aquele jovem simpático – tava escuro, não consegui prestar atenção em detalhes até então – pediu pra que o senhor trocasse de lugar com ele. Preferia sentar no corredor, pois era alto, tinha pernas grandes e sentia-se incomodado com o aperto das poltronas. Aproveitando a oportunidade, pra minha satisfação, o senhor perguntou se ele poderia trocar de lugar com a sua esposa – a roncadora – e ele aceitou. Ele sentou então ao meu lado. Foi quando descobri que era moreno e, sim, tinha a barba por fazer – coincidência, não?¹ Mas eu sabia que aquele não era o MEU moreno. Sabia que ali, do meu lado, estava sentado alguém que tinha uma história completamente diferente da minha, mas que, por um par de pernas grandes e por um senhor preocupado com os roncos da sua senhora, tava cruzando minha vida e que isso me renderia uma crônica! Pensei em puxar conversa com ele, mas desisti quando ele vestiu seu casaco de moletom e colocou o capuz sobre o cabelo molhado. Tava lindo, lindíssimo... Preferi não estragar aquele momento.
Ônibus sempre me renderam histórias, mas o mais engraçado é que eu quase nunca ouço conversas alheias. Sempre coloco a música no último volume, fico apenas observando os gestos das pessoas. Cada um com suas idiossincrasias. Gosto de imaginar o que eles estão conversando e o que fazem da vida.
Ontem, por exemplo, quando olhei pro lado tinha um casal de pé – já comentei que ônibus tava lotado, né? – arrumados como se estivessem indo pra alguma baladinha na zona sul, ambos de costa pra mim. Se entreolharam, a garota começou a rir escandalosamente, o cara riu e levantou a calça. Antes mesmo disso, eu já tinha reparado – algo que era impossível de não ver – que o garoto estava com uma cueca, daquelas samba canção, super grandes, pro lado de fora da calça. Seria esse o motivo da risada? Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe! Mas foi isso que me fez rir, me fez sentir inspirada a contar pra vocês essa história. Depois eles se beijaram rapidamente, pois uma freada brusca do ônibus quase os derrubou.
Sim, querido amigo leitor, eu a reencontrei. Na verdade, ela nunca saiu do lugar. Existem vários tipos dela... INSPIRAÇÃO, sua linda, seja bem vinda de volta!
Mas e o culpado? É o ônibus, uai. Na verdade, a falta dele. Acho que pra voltar a escrever com regularidade, preciso transferir meu mestrado pra um lugar distante² ou pegar ônibus aleatórios e sair passeando pela cidade – essa última seria uma boa oportunidade pra conhecer melhor o Rio. Que, diga-se de passagem, é uma cidade encantadora e inspiradora - berço da crônica, mãe dos cronistas! Voltei a me sentir viva... Tô feliz de novo!
¹ Pra quem já conhece meus textos, já deve ter percebido que morenos, altos, com barba por fazer sempre protagonizam minhas histórias. Dessa vez não poderia ser diferente.
² Não farei isso, fiquem tranquilos. Hehe
P.s.: 12 dias atrás recebi um e-mail fofíssimo de uma outra mineira que ganhou meu livro (Café, cálculos e crônicas) de presente e pediu pra que eu não parasse de escrever. Gostaria de destacar um trecho deste e-mail, vocês entenderão porque: "...como você, sou tão desastrada que um café no ônibus iria provocar uma catástrofe tão grande que eu não teria chance alguma com o moço ao lado, mesmo se ele fosse o amor da minha vida. Aliás, eu tenho disso, de pensar em amores da vida dentro do ônibus."- Indhiara Souza, BH
*-*
ResponderExcluirQuando quiser companhia pra dar uma volta pelo Rio, é só me chamar! =)
ResponderExcluirEu tenho vontade de vez em quando de sair por aí pra dar uma volta, mesmo sem ter um destino certo ou algo planejado.
É um sentimento de "deixa a vida me levar" que surge de repente! O único problema é que normalmente não temos muito tempo pra isso =/
Diego.
Fechado, Diego!!! É só a gente parar de fazer exercícios de processos estocásticos que nos sobrará tempo pra conhecer o Rio e todos os municípios vizinhos. hehehehe
ExcluirObrigada pelo comentário =)
Hahaha é verdade, mas relaxa que depois piora!
ResponderExcluirFalando em sair por aí e conhecer lugares novos...
Hoje, finalmente, conheci o Grajaú.
Tudo bem, não conheci o Grajaú, mas fui até as proximidades pra jogar bola. Já é um começo!
Próxima parada: Volta Redonda (não esqueci do Kart não ein)
Diego
Preciso conhecer o Grajaú - só vou esperar a Taíse chegar que a gente combina hahahaha.
ExcluirVolta Redonda já temos que combinar o dia... hahahhaha
Mas acho que sou mto ruim no Kart. hahaha
oi Joyce, legal teu blog, descobri por acaso, nas minhas fuçassões no google images rsrs... gostei muito e pretendo voltar, já seguindo aki! Tbm tenho blog, se quiser, dá uma olhada no escrevendopraviver.blogspot.com.br. até mais :)
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