Ela era esquisita
Desajeitada
Estranha
Alienada
Completamente desligada
Distraída
Todo dia era igual
O mesmo tombo
O mesmo esquecimento
Os mesmos arranhões
Talvez agora em lugares diferente
Já nem mais se importava
Não sentia mais dor
Já nem sentia vergonha
De torcer o pé na rua
Derrubar os cadernos no ônibus
Enrolar nos fios espalhados
E desligar tudo
Não estava nem aí
Porque era alienada
De tudo, todos
E até mesmo de si mesma
Um dia caiu
Como caía nos outros
Mas agora não foi parar no chão
Mal viu o que aconteceu
Foi rápido
Dessa vez não teve arranhão
Foi acolhida
Segurada
Aparada por dois braços
- fortes -
Aqueles braços ela conhecia
Não eram estranhos
Já havia sentido também aquele perfume
O sorriso era o mesmo
Os olhos eram os mesmos
Igual era também a voz
Sim! Era ele
Aquele rapaz sumido
Que ela tentava esquecer
Mas as lembranças voltavam
Como que num caso mal resolvido
E se não bastasse
Ele a acolheu como se nada tivesse acontecido
Como se não tivesse existido nenhum mal entendido
E, pelo menos dessa vez,
Ela gostou de ser distraída
Desajeitada
Estranha
Alienada
Completamente desligada
Pois por um ato
Desses de pura distração
Ela caiu novamente nos braços
Daquele moço que tinha lhe roubado o coração